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A audiodescrição tem como principal objectivo a inclusão de pessoas com deficiência visual nas várias manifestações artísticas e culturais.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dia internacional da Pessoa com Deficiência

Em comemoração do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência segue reportagem que comprova que nada é impossível.

"Os milagres acontecem todos os dias, sem que tenham data marcada no calendário das efemérides - como a que assinalamos hoje, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Tudo depende sempre da perspectiva com que se olha para aquilo que se apelida de milagre. Para quem, como eu, leva a vida de todos os dias como um autêntico milagre, as datas assinaláveis na agenda mediática não significam muito. A diferença entre a Mafalda que anda de cadeira de rodas todos os dias e a Mafalda que anda de cadeira de rodas no dia 3 de Dezembro é apenas a atenção que a comunicação social dedica ao tema.

Hoje, os holofotes acesos e a oportunidade de poder chegar às massas, mesmo fazendo parte de uma minoria, dão-me espaço à opinião. Mas como nós somos também o produto das nossas escolhas, eu escolho usar o meu direito de antena para contar o milagre que vivi há poucos dias. É que mesmo estando sob o rótulo de ‘deficiente desde sempre e para sempre', encontro nas pequenas vitórias da minha existência uma forma de me ‘maravilhar' - palavra que, na sua génese, remete para milagre. No último sábado, em vez de um ‘levanta-te e anda', ouvi um ‘dá à chave e conduz'. Obedeci e consegui. Yes, I drive!

Tudo aconteceu no parque de estacionamento do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão. A convite da Mobilitec, fui fazer um teste que mudou a minha noção de mobilidade condicionada. Através da empresa alemã Paravan, onde são concebidas várias ajudas técnicas para possibilitar a condução por parte de pessoas com um grau severo de incapacidade, durante 45 minutos estive ao volante de uma carrinha e não foi só para a fotografia.

As pessoas normais - considerando que normal é não ter qualquer limitação física ou sensorial -, quando são confrontadas com a condução pela primeira vez, têm de ultrapassar a barreira do medo. Mas as pessoas que já vivem sobre rodas têm, primeiro, de ultrapassar outro tipo de barreiras. À medida que fui crescendo (em profundidade, porque em tamanho pouco se nota) aprendi que não ‘podia' andar sozinha. Dar os primeiros passos não dependia de mim. O não era um dado adquirido. Desta vez, através da condução adaptada, descobri um admirável mundo novo.

A partir de agora, o querer, o crer e o ser capaz já só dependem inteiramente de mim. A minha escolha de não ter medo de ouvir um não é aquilo a que chamo milagre. Afinal, conduzir como se estivesse a jogar Playstation não é uma novidade para mim. Somo-lhe só mais 4 rodas. De zero a 20, o instrutor deu-me 14, justificando que seria para não me entusiasmar muito e continuar com as minhas rodas assentes na terra. A viagem está ainda no início, mas eu já apertei o cinto de segurança e tenho a certeza de que quero fazê-la. É o meu ‘Yes, I can!'.

Uma vez que, em breve, vou ter um automóvel preparado para mim, neste dia 3 de Dezembro formulo um desejo: Espero que, nesse momento, as estradas e os condutores estejam preparados para receber os portadores de deficiência. Eles têm o direito de andar na rua. Não só hoje, mas todos os dias do ano.

MAFALDA RIBEIRO

3 de Dez. de 2010"

In http://gotanocharco.bloguepessoal.com/285092/YES-I-DRIVE/

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